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A mostrar mensagens de julho, 2001

Adeus a Sapadores

Ainda e sempre no baú inédito dos meus rascunhos! Adeus a Sapadores Coimbra tem mais encanto, na hora da despedida . E Sapadores tem a mesma magia de sempre. Fui hoje despedir-me daquele 4.º andar do n.º. 7 da Rua Capitão Humberto Ataíde. Não vou negar a pena que senti por deixar aquelas escadas íngremes e velhinhas, por não voltar a ver a nesga de Tejo que me fazia agradecer por acordar viva. O sol lavava o rio em cada parto matinal e, juntamente, as minhas mágoas e dores. É um sol que não voltarei a ver igual, por vezes baço e fazendo um esforço para romper o nevoeiro que resguardava o rio, outras vezes imponente e majestoso, erguendo a sua força sobre um rio que traz à cidade um turbilhão de gentes ensonadas e violentadas no sono da manhã. Como é linda a minha cidade com a cara lavada por uma manhã de sol primaveril! Mas agora tenho à minha frente este mar infindo, e por isso fui dizer o derradeiro até sempre à minha mansarda tão alta que nem em cima de uma cadeira lhe conseguia tro...

Prefiro uma nesga de rio a uma imensidão de mar

Sem computador e numa casa desfeita, sinto-me só e sofrida. Deram-me o sol inteiro e um oceano a perder de vista. Em troca, levaram-me a minha nesga de rio e a minha cidade fetiche. O meu ancien quartier foi substituído por um bairro novo-rico e muito kitsch , de casas quadradas como paralelepípedos tombados e de elevadores que impedem as pessoas de comunicar. Tudo o que sempre não quis veio para mim, como castigo. Sofro, é verdade, e ninguém sabe porquê, porque gosto tanto desta cidade de sete colinas íngremes que só sabem amar a quem as ama e as respeita; porque gosto tanto do triângulo de rio que me espreita em cada manhã, e agora cada vez mais intensamente porque ele e eu sabemos que é o adeus. Um adeus aos lamentos futuros com cheiro a saudade das noites de raiva, de prazer, de nostalgia... Ninguém sabe compreender que eu prefira uma nesga de rio a uma imensidão de mar. Mas sou assim. Gosto de águas-furtadas com cheiro a História, de escadas íngremes e protectoras de intrusos, de...

O que em mim ficou desarrumado

Olá!! Dois blogs é "trabalho" a dobrar, mas é também prazer a dobrar. Para já, faço convosco, leitores, um pacto: Vou tentar manter independentes os temas tratados num lado e noutro. Evitarei repetir o mesmo assunto, o mesmo tema. Trata-se de dois espaços com espíritos diferentes, que devem ser respeitados. Assim, aqui continuarão os esquissos de prosas e de poesias, a Lisboa e os outros amores. Lá, ficam os debates da Liberdade. Feita a ressalva, aqui deixo o rascunho de hoje. Um leitor-amigo perguntou-me se não escrevo poesia... e acabámos a trocar poemas. Escrevo pouca poesia, é certo. Mas, para testar reacções, hoje tirei este esquisso de soneto do baú e pu blog uei-o! Espero que também gostem! O que em mim ficou desarrumado Arrumei, outrora, um pecado meu como costumo arrumar tudo mais. Pensei, naquela altura, que jamais abriria esse armário cor de breu. Enganei-me. A vida prega, afinal, estas partidas: remexe gavetas, abre memórias, cava valetas. Apunhála-nos de forma b...

Livres

Acabei de ser convidada pelo Sérgio Buaiz - que eu "conheço" de outras lides mais marketinguianas - para participar no blog Livres ( www.livres.com.br ). Para mim, é uma imensa honra ombrear com autores como o Sérgio, o Hernani Dimantas e, claro, o "pai" do meu blog, o Paulo Bicarato ! Espero, sinceramente, estar à altura da liberdade, da discussão e da interrogação. Obrigada a todos!

Lisboa (marcha popular)

Lisboa tem tradição de Marchas Populares. Pelo Santo António (13 de Junho) os Bairros populares descem às ruas, desfilando canções e vaidades. Algumas dessas canções passaram a fazer parte do imaginário colectivo lisboeta e quem ama Lisboa, vibra com elas. Deixo aqui umas das marchas mais populares de sempre. Os interessados, podem ouvir o mp3 em http://alfa.ist.utl.pt/~tuist/sons/lisboa.mp3 Lisboa Letra e Musica: Vários; Arranjos: Manuel Correia/Mário Fernandes Lisboa cheira aos cafés do Rossio E o fado cheira sempre a solidão Cheira a castanha assada se está frio Cheira a fruta madura quando é verão. Nos lábios tem o cheiro de um sorriso Manjerico tem o cheiro de cantigas E os rapazes perdem o juizo Quando lhes dá o cheiro a raparigas. Lisboa gaiata, de chinela no pé Lisboa travessa, que linda que ela é, Lisboa ladina, que bailas a cantar, Sereia pequenina que Deus guarda ao pé do mar. Lá vai Lisboa Com a saia côr do mar E todo o bairro é um noivo Que com ela vai casar. Lá vai Lisboa...

Ainda a Lisboa Abandonada

Apesar da minha já longa experiência com a capacidade de interacção que a internet provoca, esta não deixa, contudo de surpreender-me. Depois de ter aderido à mailing list da Lisboa Abandonada , preparei-me para ir à descoberta da nossa primeira reunião. Eu sei que podemos fazer daquela ideia o que nós quisermos - está na nossa mão -, mas sinceramente não esperava que tantas pessoas acreditassem no mesmo! Não esperava encontrar cerca de trinta pessoas, reunidas numa sala gentilmente cedida por outra organização, empenhadas em recuperar esta Lisboa que todos nós amamos. De estudantes a executivos, de físicos a psicólogos, passando por arquitectos, construtores civis, jornalistas e outros profissionais da comunicação, havia lá de tudo. Mais de trinta pessoas das mais variadas idades, decididas a fazer o possível para salvar Lisboa do abandono. Gostei. Gostei mesmo de lá estar. E vou gostar mais ainda dos desafios que me esperam enquanto membro activo deste embrião de associação. Quem est...

A única nota de beleza é a minha casa

Mais de cinco anos passados sobre o texto que hoje publico, olho para trás, para épocas conturbadas da minha vida, e não posso deixar de interrogar-me se a Dor não será a grande Mãe da Criação... A única nota de beleza é a minha casa Olhando o Tejo através da janela do meu quarto, penso em como ninguém compreende porque teimo em manter esta casa. Magnífica. Linda. E eis-me acorrentada de livre vontade a uma casa que me consome energias, sonhos e salários. Talvez nem eu saiba porque razão gosto tanto dela. É linda. Em cada recanto de princípio de século, em cada coup d'oeil que lanço pelas janelas, em cada tábua de soalho encerado que geme sob os meus passos, adoro esta casa. No branco das paredes inundado pelo brilho de um pôr de sol ou pelo doce calor de uma aurora. São paredes que habitam a minha alegria ou as minhas tristezas, mas são o que me resta do sonho sonhado. São o meu único "Q" que me dá prazer neste mundo que me é cada vez mais hostil. Sonho com a cultura, c...

Desci a manhã numa rua orlada de Tejo fugidio

Hoje cá vai mais um esquisso retirado do baú das memórias e do Amor. Espero que continuem a gostar! Desci a manhã numa rua orlada de Tejo fugidio Desci a manhã numa rua orlada de velhos candeeiros de ferro forjado e inclinada de sol e de Tejo fugidio. Ainda sentindo o cheiro da aurora campestre ribatejana, Lisboa pareceu-me, contudo, limpa e perfumada. Falta-lhe o odor das bestas e o cacarejar das galinhas receosas pelos pintainhos saídos do ovo. Mas tem o formigar de gentes que ficou lá atrás, e deixou para mim esta nesga de rio que emoldura a janela do meu quarto. Mesmo quando, como agora, ao longe falta visibilidade, os contornos da outra margem impõem-se na imaginação de quem conhece o É deste rio. Aos olhos de quem o ama (como quando se ama muito alguém muito querido) não é difícil desenhar-lhe as beiras que alarvemente teimam em inundar a lezíria e o sonho. Recordo-o sempre numa admiração de primeira vez, que já não sei quando foi. Perdida no sótão da minha meninice surge a memór...

Lisboa abandonada

Hoje tenho de agradecer a todos vocês, leitores do meu blog, as palavras simpáticas que me têm escrito! Gente! Se vocês continuam a enviar-me feed-back tão agradável, eu vou convencer-me que o meu blog é bom... :))) Feito o aparte, passemos ao assunto de hoje: o abandono! Lisboa é bela, já o disse, mas é também uma mulher abandonada, perdida na vida, sem saber o caminho - a menos que nós lhe demos uma ajuda. Há pouco tempo, descobri um site na net portuguesa que fala, exactamente, dessa Lisboa Abandonada , e, claro, entrei para a comunidade. Trata-se de um grupo de cidadãos preocupados com os prédios que estão devolutos, a cair, arruinados e ao abandono. Queremos fazer pressão - junto dos proprietários, da câmara municipal, de quem de direito... - para que sejam recuperados, reconstruídos, reutilizados... Para que possam, de novo, voltar a ser locais de vida e de felicidade. Esta sexta-feira, vou conhecer o grupo. É a primeira reunião em que vou participar. Depois, eu conto-vos como co...

Cidade coquette

Lisboa hoje surpreendeu-me de novo em algo que já não devia ser novidade: a sua beleza. Mas a verdade é que há dias em que ela parece mais bela, como se se tivesse enfeitado de propósito para ser fazer coquette ... Hoje, em São Francisco Xavier, apareceu-me vestida de verde e maquilhada de azul. Ela veste-se assim, muitas vezes, mas naquele momento em que o tempo pairou sobre a realidade, os meus olhos viam-na particularmente bonita. A água que lhe aspergia os cabelos deixava no ar gotículas de sonho e de saudade. Ao fundo, o azul dos seus olhos cor de Tejo confundia-se com um outro azul, o do céu em tons de Verão. Pelo meio, uma linha de curvas ténues acentuava-lhe a cintura como quem a abraça da outra margem. Deixei que o meu olhar descesse a curva do seu corpo, repousei-o no rio e elevei-o depois... Como quem agradece a benção de amar assim! (c) Dulce Dias - 2001-07-18

O pai do Esquissos

Porque todos os seres têm pai e mãe, não posso aqui esquecer o papel desempenhado pelo Paulo Bicarato no nascimento deste blog! Já que eu tive a honra de aprender com ele - e com o seu Alfarrábio - o que é um blog, acho que a "paternidade" do meu site é dele por mérito... e por Amizade. Obrigada a todos os que me têm ensinado o que é a internet. :-)*

Lisboa menina e moça e o Homem das castanhas

E porque outros antes de mim se apaixonaram por esta Lisboa cidade, aqui fica a minha homenagem a quem o fez! Lisboa menina e moça Ary dos Santos - Paulo de Carvalho No castelo Ponho um cotovelo Em Alfama Descanso o olhar E assim desfaz-se o novelo De azul e mar À ribeira encosto a cabeça almofada Na cama do tejo Com lençóis bordados à pressa Na cambraia de um beijo Lisboa menina e moça, menina Da luz que meus olhos vêem tão pura Teus seios são as colinas, varina Pregão que me traz à porta, ternura Cidade a ponto luz bordada Toalha a beira mar estendida Lisboa menina e moça, amada Cidade mulher da minha vida No terreiro eu passo por ti Mas da graça eu vejo te nua Quando um pombo te olha, sorri És mulher da rua E no bairro mais alto do sonho Ponho o fado que soube inventar Aguardente de vida e medronho Que me faz cantar Lisboa menina e moça, menina Da luz que meus olhos vêem tão pura Teus seios são as colinas, varina Pregão que me traz à porta, ternura Lisboa do meu amor deitada Cidade ...

Esta luz que desflora recantos

Para quem não sabe, Lisboa é a minha grande Paixão. É o meu amor, a minha mulher, o meu amante, a minha vida. Por ela, transmuto-me em carvão e em diamante e de novo em carvão, num ciclo sem fim que me leva, quase sempre, à beira Tejo, onde vou repousar o olhar no rio da minha cidade. Por isso, não será de estranhar que aqui se vão "pu blog ando" algumas das cartas de Amor que, ao longo dos tempos, lhe escrevi. Esta que se segue é uma delas. Esta luz que desflora recantos Realmente, só Lisboa tem esta luz que desflora recantos escondidos num final de tarde e de semana. Numa cidade temporariamente liberta de bípedes apressados, o cair do crepúsculo ilumina becos, vielas e velhinhas de negro vestidas e cobertas com o xaile da tristeza, da solidão e da viuvez. E cada pedaço de rua, cada bocado de casa velha, quase podre, habitada pelo silêncio, pelas ervas e por um ou outro roedor que aí se abrigue, nasce, só para mim, nesta Lisboa que aprendo, dia a dia, a amar. E como todos os...

Olá! Este é o meu primeiro blog!

Aqui tentarei deitar ao vento os pensamentos que me vão à mente. Sem pretensões estilísticas, não passa do que o próprio nome indica: esquissos. Esquissos de textos, esquissos de poemas, esquissos até do próprio pensamento... Boa leitura!