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Os 10 anos do PaCS - ou o casamento "light" francês

Comummente, chamam-lhe PaCS. O nome completo é Pa cto C ivil de S olidariedade - ou Pa cte C ivil de S olidarité - e comemora hoje 10 anos de existência. E perguntam-se os meus leitores: "Mas, ela está a falar de quê?" Pois, bem esta é (mais) uma das "excepções francesas". Trata-se, grosso modo, de algo semelhante à "união de facto" portuguesa. Mas digo "grosso modo", porque, na realidade, o PaCS (lê-se PAX) assina-se. Como quem assina um contrato de casamento. Faz-se no Tribunal, sem testemunhas, e confere ao casal "pacsado" quase os mesmos deveres e direitos do casamento e tem efeitos imediatos (a partir do dia em que foi assinado). Ao contrário da "união de facto" portuguesa, que precisa de um certo número de anos de vida em comum para ser reconhecido. Em termos de direitos e deveres, fica aqui o essencial: - Os dois membros do PaCS devem assistência mútua. Só por curiosidade, a fidelidade não vem mencionada ;-

Le harcèlement de CanalSat / O assédio de CanalSat

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Não é só em Portugal que estas coisas acontecem... em França, algumas empresas também gostam de cobrar mais do que deviam - e de continuar a cobrar mesmo quando já demos baixa da assinatura. Aqui vai um extracto da queixa que acabei de apresentar no site da "Direction générale de la concurrence, de la consommation et de la répression des fraudes", que pertence ao Ministério francês da Economia. Deixei a mesma queixa em mais dois sites de associações de consumidores! Como dizem os franceses: "Ras le bol!", ou seja, "Estou farta!" = HARCELEMENT Parce qu'il faut dénoncer ce genre de choses, voici la copie de la plainte déposée au près de la Direction générale de la concurrence, de la consommation et de la répression des fraudes et de plusieurs associations de consommateurs : "En avril 2008 j'ai voulu résilié mon contrat CanalSat. J'ai contacté l'entreprise par téléphone, un conseiller m'a dit qu'il suffisait de faire une simple le

E a II Guerra Mundial aqui tão perto...

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Cada vez mais me dou conta de que há pequenas grandes diferenças entre Portugal e França, entre a cultura portuguesa e a cultura francesa. Para mim, enquanto portuguesa, uma operação de desminagem é algo que se faz em África ou no Médio Oriente. Ou então, é aquilo que se vê nos filmes norte-americanos. Tanto num caso como no outro, é uma realidade distante, longínqua, no espaço e eventualmente no tempo. Mas aqui, em França, é uma realidade francesa. Uma realidade próxima. Uma realidade actual. Hoje mesmo, em Brest, está a ser levada a cabo uma operação de desminagem . Uma bomba americana da II Guerra Mundial - mais uma - foi encontrada na cidade bretã, uma das mais devastada durante a guerra. Milhares de habitantes são deslocados temporariamente das suas casas, a câmara municipal prepara alojamento de urgência para quem não tenha para onde ir enquanto decorrem as operações... É toda uma logística que em posta em acção e que, de cada vez que é activada, impede um pouco, certamente, a ci

Viva a Primavera!!!

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Neste país onde o Sol nem sempre gosta de se mostrar, a chegada da Primavera é um dos momentos mais importantes do ano!! E eu, que até nem gosto lá muito de Vivaldi, tenho vontade de ouvir isto: Viva a Primavera!!

Gastroenterite

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Todos os anos, aqui em França, é a mesma coisa: epidemia de gastroenterite! Ela aí está, novamente, após a época natalícia. Segundo dados citados pela rádio France Info , desde meados de Dezembro, 400 mil pessoas já foram atingidas pela doença, que se manifesta por diarreia, fortes dores e náuseas. O limiar da epidemia - de 278 infectados por cada 100 mil habitantes - já foi ultrapassado: certas regiões registam 401 pessoas infectadas por cada 100 mil habitantes. A notícia, em si, seria banal, num qualquer país do terceiro mundo. O que me choca é que ela diz respeito à França, um país rico e dito civilizado. E que, ainda por cima, ela se repete todos os anos: na época de Natal e durante o Verão. A gastroenterite transmite-se por contacto directo entre seres e as formas de evitá-la são tão básicas que até me faz impressão que seja necessário que os médicos venham repeti-las, todos os anos, nas rádios, nas televisões e nos jornais franceses: respeitar a cadeia de frio (isto é, não voltar

Odores e sabores

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Hoje colhi a primeira salsa da minha floreira. Que odor e que sabor! Aquilo que dantes era uma coisa natural, tornou-se agora um prazer raro e incomensurável: colher salsa fresca para a comer logo de seguida. Criada entre o campo e a cidade - que sorte! -, quando era menina, ia com a minha avó colher os frutos e legumes pela manhãzinha, quando ainda estão frescos. O pomar e a horta libertavam aromas inebriantes e puros. Na altura, a terra era terra e o único fertilizante era o estrume feito na estrumeira com os resíduos orgânicos do dia a dia. E em cada nova manhã, lá ia eu, gaiata, atrás da avó, colher os alimentos do dia. A vida era saudável. Aqui, na cidade, nada tem cheiro, nada tem sabor. Mesmo num passeio pelo mercado, ao domingo de manhã, à beira Saône, embora o olhar se deleite com as cores, não encontro cheiros. As laranjas estão parafinadas. As maçãs, vindas de Israel, são calibradas. E os tomates são apenas bonitos de ver. E a salsa, ai a pobre salsa, nunca cheira a nada! Ca

Les maisons vides

J'ai toujours aimé les maisons vides. J'ai toujours aimé les maisons pauvres, dépourvues de meubles et de confort. Je me souviens encore du jour où je suis rentrée dans notre nouvelle maison à Porto Alto. Elle venait d'être bâtie par mon propre père. Mais elle n'était encore finie. Ma petite chambre n'avait toujours pas de fenêtre. Une brique de moins, ouverte sur les champs, sur le marécage, la remplaçait. Le soir, la brique en position, la fenêtre se fermait. C'était ma première chambre à moi. J'avais 11 ans et j'en étais ravie. Cette pauvreté fut, pour moi, le symbole de ma liberté. La liberté de posséder ma propre chambre. C'est peut-être à cause de ça que je m'en souviens encore, que ça me fait toujours des frissons d'y penser. Un autre souvenir que je garde encore c'est celui de mon premier appartement. Mon appartement de rêve, duquel je rêve encore. Il était petit et mignon ; il avait du cachet. Ses fenêtres s'ouvraient sur le

De como os portugueses sabem viver a vida ou a frigidez francesa

Passados os choques iniciais da chegada a Lyon, começo - mais de um mês depois - a usufruir da vida francesa. De tal forma que ganhei coragem para me meter sozinha num TVG e partir de Lyon à descoberta da Cidade-Luz - que já me disseram ser escura e sombria.  De Lyon, ainda conheço pouco. Falta-me um rio com a dimensão do Tejo para me orientar. O Ródano e a Saône não se comparam com o lar das Tágides - nem em dimensão nem em cor.  Enlameados e encurralados, correm um para o outro com uma celeridade tal que envergonharia os amantes mais sôfregos.  O meu Tejo, pelo contrário, reserva-se o tempo de se espraiar, deleitando-se no sopé das várias colinas de Lisboa, que beija com a sua língua cor de céu.  Lisboa tem sete colinas; Lyon, apenas duas - a que reza e a que trabalha -, orgulho dos leoneses. Lisboa é uma mulher voluptuosa; Lyon é um ente andrógino e escorrido.  Ao clima incerto da região - ora gélido e cortante, ora abrasadoramente sufocante -, junta-se uma população burguesa e fria

Lyon, essa desconhecida da qual me aproximo a medo

É Agosto e chove. A manhã acordou-me sob uma chuva miudinha e certinha que o sol em breve afastou. É assim o Verão em Lyon. Não temos consciência dele. Sucede-se em vagas sufocantes a dias diluvianos.  Um pouco como os meus estados de espírito. O sol que agora se vê aquece-me a alma ainda há pouco gelada.  Nutro por Lyon um misto de amor-ódio, tal como o que  Cascais me desperta. Não consigo apaixonar-me por esta cidade como outrora me apaixonei por Bordéus. Talvez porque a idade seja outra e eu exija mais antes de entregar-me. Ou talvez porque Bordéus seja realmente mais calorosa e acolhedora do que Lyon. Ou então fui eu que criei outras raízes em Portugal e sinto mais a saudade do que a sentia há oito anos.  O certo é que Lyon ainda me é uma desconhecida da qual me aproximo a medo.  (c) Dulce Dias -  Crónicas Leonesas  - 2002-08-24 

Confluência

Fui lá. Lá onde a terra acaba e o rio começa e eu nunca tinha imaginado como seria.  É um local único, onde o sol se abate sobre a relva e o olhar se estende sobre o azul que desce para Sul.  Sem sobressaltos, é um rio que se esvai noutro rio e que, no momento, são já só um. Dois amantes em sintonia perfeita, dois corpos liquefeitos que se repousam um no outro e cujos limites perdem a razão de ser.  Ali, na confluência da Saône com o Ródano, a Presqu'Ile não é mais do que uma língua que acaricia aquele corpo único que naquele mesmo local se forma. O rio tem então o ar de dois amantes enlaçados no repouso sucede à fruição.  As margens, de contornos suaves e doces curvas, lembram ancas femininas. A ondulação que vem beijar a terra é como uma mão masculina que acaricia os cabelos da amada.  Sobre eles, abate-se um sol morno e tímido de começo de Primavera com uma luz velada e amorosa.  É uma perfeição talhada por mãos humanas mas que finge ter sido feita assim pela Natureza. Como uma

Uma casa vazia de ti

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Tenho uma casa vazia de ti, à tua espera. Tenho pressa de ver-te nela, quero sentir-te sentires-te em casa. Quero que aprecies cada recanto como eu o aprecio e que ouças comigo o ranger do soalho sob os nossos corpos. Quero amarfanhar-te nos meus lençóis que então serão teus também. Espero que olhes comigo pelas janelas e que juntos apreciemos os comboios que chegam e partem na gare ao lado, trazendo esperanças e levando sonhos. Mas enquanto não vens, enquanto não estás aqui comigo a preencher o meu espaço e o meu corpo, tenho uma casa vazia de ti, à tua espera. (c) Dulce Dias - Crónicas Leonesas - 2003-03-24

A imagem da Confluência

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A confluência da Saône (à esquerda) com o Ródano (à direita), em Lyon ...