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O cão preto da Praça José Fontana Gosto do jardim da Praça José Fontana. É pequeno, acolhedor e híbrido... sui generis nas gentes estranhas, diferentes, bizarras e heterogéneas que diariamente o povoam. Por vezes, pela manhã, o sol irriga de vida os canteiros molhados ainda do orvalho nocturno. Os pombos passeiam-se junto ao bebedouro público, ou então debicam os vermes à superfície da terra recém-arada pelos jardineiros camarários. Nos vários bancos daquele pequeno jardim há um melting pot à dimensão alfacinha. Mendigos e sem-abrigo contam estórias da vida uns aos outros, sonhando, quiçá, com uma outra vida que não conseguem ter. À hora do almoço, naqueles mesmos bancos, encontramos yuppies nos seus fatos Armani, indiferentes a quem, no banco ao lado, pouco tem para vestir. Sob outra árvore, sobre outro banco, escriturárias pirosas comem umas sandes, depois de terem gasto o dinheiro ali, na Zara, em roupas sempre iguais que fazem questão de mostrar às amigas. H
À descoberta de Cecília Meireles II Sub rosa , o blog da Meg, está repleto de informações sobre a poetisa. Biografia, bibliografia, poemas e homenagens. Um pouco de tudo para descobrir, ou conhecer melhor, esta poetisa que foi casada com um português e cujo mérito foi reconhecido aqui, em Portugal, pelo saudoso Vitorino Nemésio, se bem me lembro... A visitar mesmo: Sub rosa !

À descoberta de Cecília Meireles

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O mercado são conversações, diz o meu ciber-amigo Hernani a toda a hora. E conversar é comunicar, é trocar experiências, é ensinar, é aprender, é partilhar. Daqui - de Portugal - para lá - no Brasil -, tenho tentado partilhar a minha cidade e a nossa literatura. Levar um pouco dos escritores portugueses até terras de Vera Cruz. De lá para cá, muitos ciber-amigos me apresentaram nomes - vários, bons - que eu não conhecia. Entre eles está Cecília Meireles, a poetisa cujo centenário hoje se comemora. Apelando à minha *sensibilidade* (!!) – " pela beleza que tenho lido no seu [blog], adivinho-a sensível: então, estou pedindo a todos os *bloggers* que no dia 6 para 7 de novembro coloquem um post em homenagem à maravilhosa poetisa brasileira CECÍLIA MEIRELES cujo centenário comemoramos " -, Meg Guimaraes ( Sub Rosa ) desafiou-me a participar desta homenagem. Para quem não conhece (como um dia eu também não conhecia), aqui fica um poema de Cecília Meireles - " voz única na poe

Sobre as avós...

A Ana acabou de fazer um comentário à homenagem Sem título - só com dor que, no Dia de Finados, prestei à minha Avó: "Avós deveriam ficar junto aos netos para sempre. Nunca ninguém é crescido o bastante pra ficar sem avós. Eu não sou." A frase é da Anna Barbara . Obrigada às duas. Subscrevo também.

Cântico Negro

Se eu tivesse de eleger um poema como sendo "O poema", seria este aqui. Cântico Negro "Vem por aqui" - dizem-me alguns com olhos doces, Estendendo-me os braços, e seguros De que seria bom se eu os ouvisse Quando me dizem: "vem por aqui"! Eu olho-os com olhos lassos, (Há, nos meus olhos, ironias e cansaços) E cruzo os braços, E nunca vou por ali... A minha glória é esta: Criar desumanidade! Não acompanhar ninguém. - Que eu vivo com o mesmo sem-vontade Com que rasguei o ventre a minha mãe. Não, não vou por aí! Só vou por onde Me levam meus próprios passos... Se ao que busco saber nenhum de vós responde, Por que me repetis: "vem por aqui"? Prefiro escorregar nos becos lamacentos, Redemoinhar aos ventos, Como farrapos, arrastar os pés sangrentos, A ir por aí... Se vim ao mundo, foi Só para desflorar florestas virgens, E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada! O mais que faço não vale nada. Como, pois, sereis vós Que me dareis machados, ferra

Sexta-feira ao entardecer

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Vi o sol pôr-se sobre o Tejo, enquanto os edifícios de Lisboa se iam recortando no cinzento em que o azul do céu se transformava. Na Ribeira, o anil celeste iluminou-me o olhar, repleto, já de si, de esperanças no futuro. Deixei-me impregnar pelo cheiro de maresia e pelos odores que se desprendiam das lojas de bairro que ainda povoam a zona ribeirinha da minha cidade. E, de repente, já nada era igual àquela calma de há minutos. Subir a Avenida da Liberdade em hora de ponta, numa sexta-feira outonal acariciada por um sol dourado, é entrar num inferno de ruído, raiva e multidão. Os condutores atropelam direitos cívicos, os carros buzinam palavrões, os semáforos, aparentemente sempre vermelhos, suscitam ódios viscerais. Como formigas que perderam a sua rainha, os peões movimentam-se em carreiros em percursos de vida que parecem ter perdido o nexo. E continuo a subir aquela artéria principal, com o Tejo, por trás, a acariciar-me as memórias de dois dias de aprendizagem intensa. Depois do M

Sem título – só com dor

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Hoje, 2 de Novembro, é Dia de Finados, dia de ir aos cemitérios e de colocar flores nas campas. Não é meu hábito prestar esse tipo de homenagem. Por isso, para ti, Avó, aqui fica a minha singela homenagem. Sem título – só com dor Cascais ficara para trás. O percurso sinuoso do comboio, acariciando a Costa do Estoril, beijando as suas praias, permitia observar aquela baia azul povoada de iates e banhada de sol. Em breve é Lisboa que se avizinha, o Tejo de águas sujas que não consigo deixar de amar. Embalada pelo sincopado movimento daquele cavalo de ferro, fecho os olhos lentamente. É então que o telemóvel toca. Estas maravilhas da tecnologia que nos fazem estar contactáveis nos lugares mais inóspitos e nos momentos mais inoportunos. Porque nenhum momento é oportuno para a morte. Muito menos para a tua, Avó. Eu sei que ninguém é eterno. Sabia-te doente. Sabia que já aguentaras mais do que um dia supus que aguentasses... Mesmo assim não foi oportuno. Não foi justo. Não tinhas o direito

Parabéns, Pai!

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Ao contrário da minha ciberamiga de além-Atlântico, Ana Maria Gonçalves , eu não mantenho um Álbum de Família no meu blog. Mas isso não significa que eu não ame a minha família. Porque a amo muito. Muito mesmo! O meu Pai e o meu tio fazem hoje 60 anos. Para os gémeos, aqui fica o meu voto de Parabéns e de que esta nova etapa da vida vos corra ainda melhor e vos faça sorrir muito. Adoro-vos!

Espasmos

De novo no bau das memórias... Espasmos Sinto ainda no meu âmago espasmos teus e espasmos meus. Os meus lábios beijam o vazio em busca do beijo teu e as minhas mãos acariciam o ar como se das tuas doces mãos se tratasse. (c) Dulce Dias – 1999-05-06

Links e novidades

Para quem já começa a ficar perdido nos vários links devidamente seleccionados que faço questão de acrescentar a este blog, partilhando-os com os meus leitores, optei por colocar a palavra NOVO antes de cada um dos novos links. Aí se manterá durante dois ou três dias, alertando, assim, para as novidades. Para além disso, hoje fica aqui a nota dos que agora foram acrescentados. Para quem (ainda) não sabe, eu sou uma mulher de paixões, melhor dizendo, de amores. Paixões e amores por coisas tão platónicas como uma esquina, um livro ou um autor. Uma das minhas grandes paixões são os aviões. Civis. (Que eu odeio tudo o que é militar!) E, da mesma forma, adoro os escritores que foram, também, aviadores. Richard Bach e Antoine de Saint-Exupery estão, assim, no topo das minhas preferências. Pois, para quem não conheça (eu não conhecia) aqui está o link da Fundação Saint-Exupery : www.saint-exupery.org . Na área da criação artística, destaque para o site (de nome muito complicado!) Y0UNG-HAE C

Pequeno-almoço no Martinho da Arcada

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Terça-feira tomei o pequeno-almoço no Martinho da Arcada. O sol beijava o Tejo e dava mais cor ao amarelo dos Ministérios. Gente apressada passava sem ver Botero e as suas esculturas. Embebedei-me de Lisboa e de vida. Senti o sangue percorrer cada milímetro das minhas veias. Senti a alma expandir-se-me no corpo e renasci das minhas próprias cinzas. Veio-me de novo a vontade de viver e de lutar, de escrever e de triunfar. E de ser livre! Senti, uma vez mais, a dicotomia amor-liberdade e a incapacidade de equilibrar tais elementos. Estarei eternamente condenada à solidão criadora? Ou ao amor repetitivo? Quero criar! Mas quero amar também... A criação exige tempo. O amor exige ainda mais. Sem saber ainda a resposta, no sol que aquecia as arcadas do Martinho senti, contudo, a coragem de ser livre. De ser criadora. (c) Dulce Dias – 1998-04-09

A vertigem voraz da vida

Avisaste-me de antemão que não sofresse. Desculpa-me se não soube seguir o teu conselho. Eu vivo a vida assim: intensamente. Expludo-me em miríades de luz e, depois, dilacero-me em pedaços de trevas lançados de mim. É a única forma que conheço de viver. Não sei evitar o sofrimento nem a dor. São sempre o colmatar do meu prazer. Mas, Deus!, não me impeçam de sentir o sabor, todo o sabor da Vida. Porque a Vida é um vendaval vadio. E eu vou no Tornado, no Furacão. Não me ponham travões nem me peçam para reduzir a velocidade. Não me impeçam de sentir a vertigem voraz de viver a Vida intensamente. (c) Dulce Dias - 1999-05-10

Pai é pai

Pai é pai Pai é pai, e é tem um papel a cumprir. Assim, tal como o Paulo Bicarato tem no Alfarrábio , eu também instalei o Reblogger . Quer isto dizer que agora, quem quiser comentar qualquer pu blog ação minha só tem de clicar em Comentário , no rodapé de cada mensagem. Os interessados em instalar podem clicar no logotipo aqui ao lado. Obrigada "Pai", por ajudares a tomar conta do nosso *filhote*.

Esta Cascais de que teimosamente não quero gostar

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... Este sol, contudo, não é absorvido pela vila com a mesma luminosidade doce e encantada de Lisboa. Aqui, nesta vila pela qual nutro um sentimento de amor-ódio, o sol matinal ilumina as casas cascaenses de uma luz que agride. O azul do céu é, também ele, diferente daquele de Lisboa. Nesta Cascais de que teimosamente não quero gostar – mas sobre quem leio tudo o que me oferecem -, não fossem os passeios aos correios para levantar encomendas e passaria por ela sem sequer dignar-me olhá-la. E hoje, em mais um desses passeios obrigatórios até aos Correios perto do Hospital – este último ainda nem descobri onde é! -, lembrei-me de que, provavelmente, do que não gosto, não é da vila, sim das pessoas: snobs, vaidosas e provincianas na sua Cascais-umbigo-do-mundo. Gente que não veste se a marca não tiver sotaque francês ou italiano. Gente que se fecha na sua pretensa qualidade-de-vida-que-só-existe-fora-de-Lisboa. E que não vê que a baixa cascaense vive de domingo a domingo atulhada de carro

Um dia a casa vem abaixo

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Folgo em saber que começa a haver alguma sensibilidade para o problema das casas abandonadas e do êxodo de Lisboa. A semana passada, a Lisboa Abandonada foi entrevistada. Hoje, a reportagem saíu no semanário Euronotícias . Com chamada de capa e duas páginas inteiras dedicadas ao tema. :))) A jovem jornalista, Carla Pereira , fez um excelente trabalho e está de parabéns. Vale a pena ler o artigo para perceber a dimensão do problema!

Carta nunca enviada à minha Avó

Para ti, Avó, onde quer que estejas, quando mais um ano passa sobre o dia em que te despediste de nós. Carta nunca enviada à minha Avó 96.03.31 Querida Avó! No regresso a Lisboa nesta noite lacrimejante perscrutei a escuridão como quem tenta decifrar o Desconhecido. E vinha-me à memória uma frase familiar: "Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida". No ambiente falsamente alegre há um segredo do Polichinelo guardado na sala do Barba Azul. Todos sabemos que estás sentada à espera da Morte, mas nunca se fala em tal. Só tu o referiste – muito brevemente, é certo. Diz-me, responde-me: como é a sensação de saber que nada mais resta senão a espera? Sabes que vai ser, só não sabes quando. O que sentes? Em que pensas nessas longas 24 horas diárias (poucas dedicadas ao sono) de quase total vigília? Como sentes tu o penso da Morte? Ou… a sua leveza? Preferes o silêncio, o ignorar, o tentar esquecer, ou queres falar no assunto? O que mais me magoa talvez nem seja sequer saber que vais

Ocupada..

Aos meus leitores, devo um pedido de desculpas! Há cerca de uma semana que não pu blog o nada no Esquissos! Não é por mal, nem por desinteresse e muito menos por falta de respeito para com quem me lê! É mesmo por falta de tempo... :-( A monografia que estou a escrever sobre a freguesia lisboeta de São Francisco Xavier está quase terminada mas, como se costuma dizer, "o rabo é o mais difícil de esfolar", pelo que tenho tido imenso trabalho, algum ainda de pesquisa e muito de escrita... Além disso, Agosto é tempo de férias - para alguns, pelo menos!! - pelo que no Emarketeer.net tenho tido trabalho a dobrar... De qualquer forma - e isto é uma promessa! -, a partir do início de Setembro (altura em que entrego a totalidade do original sobre São Francisco Xavier), vou escrever regularmente os meus Esquissos. Alguns deles, como já vem sendo hábito, serão repescados na gaveta dos rascunhos. Outros, sairão no momento, produto da constatação do mundo que me rodeia. Só mais umas linha

A vida não é mais que uma barcaça

Apetece-me fugir não sei do quê Apetece-me gritar, ir mais além É uma dor que queima porém A veleidade de perguntar "porquê?" Porquê eu? Porquê a dor e não a morte? Que mal fiz eu, Senhor, ao Karma meu? Queria apenas deitar-me com Morfeu, Dormir, dormir, esquecer esta má sorte. Esquecer sonhos perdidos, o passado Apagar memórias sem um só lamento Construir tudo novo no momento! Mas o desejo foi silenciado: A vida não é mais que uma barcaça Com que Lethes nos persegue e nos caça. (c) Dulce Dias – 1998-07-10

Bem-vindo de novo, Sete Colinas

Estou feliz. Estou muito feliz! Quando comecei a inserir, neste blog, os links de mais gosto, não consegui aceder a um site fantástico, sobre Lisboa, chamado Sete Colinas . Mas, hoje, em busca de livrarias e outros links interessantes, encontrei o Sete Colinas novamente a funcionar. Não sei o que se passou antes, se foi apenas um servidor que caiu, ou se foi algo mais grave... Seja como for, é com muito agrado que vejo o site novamente online Sete Colinas, sê bem-vindo!

Geografia a quatro mãos

Minhas mãos conhecem teu corpo de cor E o meu corpo abandona-se, lânguido, a essas tuas mãos A cada curva, minhas mãos deslizam seguindo a geografia do teu corpo Qual rio serpenteante entre colinas, deslizo na praia da tua pele O rio que, sedento, ansioso corre para se regozijar no mar Mas a barragem da ternura refreia-lhe a anseia da foz Barragem que, no entanto, não impede o rio de encontrar sua terceira margem... Margem feita leito, suave como porcelana e quente como lava impetuosa e húmida Lava ardente a que me rendo, e que me imortaliza qual Pompéia num instante de paixão E descansa, a lava, tranquila como as cinzas de Roma incendiada Tranquila, pois a lava sabe que me lava a alma... E a minha alma sente-se beijada no mais profundo do meu É Enquanto o vulcão adormece novamente no colo do monte de Vênus, após a explosão do êxtase O rio recolhe-se aos poucos no conforto das margens carinhosas depois de ter fertilizado o seu delta e, sábio, acaricia a mata pensando em como é ser igua