Sexta-feira ao entardecer

Praça Marquês de Pombal com o Parque Eduardo VII em primeiro plano

Vi o sol pôr-se sobre o Tejo, enquanto os edifícios de Lisboa se iam recortando no cinzento em que o azul do céu se transformava.

Na Ribeira, o anil celeste iluminou-me o olhar, repleto, já de si, de esperanças no futuro.

Deixei-me impregnar pelo cheiro de maresia e pelos odores que se desprendiam das lojas de bairro que ainda povoam a zona ribeirinha da minha cidade.

E, de repente, já nada era igual àquela calma de há minutos. Subir a Avenida da Liberdade em hora de ponta, numa sexta-feira outonal acariciada por um sol dourado, é entrar num inferno de ruído, raiva e multidão.

Os condutores atropelam direitos cívicos, os carros buzinam palavrões, os semáforos, aparentemente sempre vermelhos, suscitam ódios viscerais. Como formigas que perderam a sua rainha, os peões movimentam-se em carreiros em percursos de vida que parecem ter perdido o nexo.

E continuo a subir aquela artéria principal, com o Tejo, por trás, a acariciar-me as memórias de dois dias de aprendizagem intensa.

Depois do Marquês e da Fontes Pereira de Melo, vencido também o Saldanha, chego ao Campo Pequeno, onde as obras da Praça de Touros transformaram também aquele pequeno paraíso num estaleiro de obras sem fim à vista.

Mas saber que ali, bem perto, está o homem da minha vida à minha espera faz-me esquecer poluição e ruído e dar graças por amar Lisboa.

(c) Dulce Dias – 2001-10-28

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