Confluência
Fui lá. Lá onde a terra acaba e o rio começa e eu nunca tinha imaginado como seria.
É um local único, onde o sol se abate sobre a relva e o olhar se estende sobre o azul que desce para Sul.
É um local único, onde o sol se abate sobre a relva e o olhar se estende sobre o azul que desce para Sul.
Sem sobressaltos, é um rio que se esvai noutro rio e que, no momento, são já só um. Dois amantes em sintonia perfeita, dois corpos liquefeitos que se repousam um no outro e cujos limites perdem a razão de ser.
Ali, na confluência da Saône com o Ródano, a Presqu'Ile não é mais do que uma língua que acaricia aquele corpo único que naquele mesmo local se forma. O rio tem então o ar de dois amantes enlaçados no repouso sucede à fruição.
As margens, de contornos suaves e doces curvas, lembram ancas femininas. A ondulação que vem beijar a terra é como uma mão masculina que acaricia os cabelos da amada.
Sobre eles, abate-se um sol morno e tímido de começo de Primavera com uma luz velada e amorosa.
É uma perfeição talhada por mãos humanas mas que finge ter sido feita assim pela Natureza. Como uma mulher sobriamente maquilhada.
Fui lá e tenho a certeza que voltarei ali.
(c) Dulce Dias - Crónicas Leonesas - 2003-03-23
(c) Dulce Dias - Crónicas Leonesas - 2003-03-23
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