A língua portuguesa

Estive a visitar, como habitualmente, o Gente que Faz, e deparei-me com um excelente post colocado por Miss Mossoró, sob o título Nem só de livros técnicos vive o homem de negócios.

Miss Mossoró fala da fraca qualidade da escrita. Fala dos erros de ortografia e mesmo dos de sintaxe. Fala da realidade brasileira actual.

Pois é!! Mas podia muito bem estar a falar de Portugal que o panorama seria o mesmo!

É certo que a internet tem destas coisas! As pessoas escrevem cada vez pior. A emergência do passar a mensagem leva-nos a escrever cada vez mais rápido, a enviar o e-mail sem o rever, a eskecer as sílabas complicadas, transformando-as noutras mais simples, a considerar - talvez sem pensar - que o importante da msg é o conteúdo e não a forma!

Ora, ao longo de milénios, a forma e o conteúdo andaram de mãos dadas e está convencionado que assim seja! E como a sociedade é feita de convenções, torna-se desastroso alterá-las ad hoc.

Recentemente, numa lista de discussão, falava-se sobre a utilização ou não do vocábulo blog.

Pois bem, este é um exemplo de palavra que não me incomoda utilizar. O blog, enquanto conceito, veio para ficar (pelo menos, enquanto for gratuito! eh eh), e foi-nos trazido pelo Blogger. Da mesma forma que um Hertz é um Hertz, qualquer que seja a língua, penso que um blog será sempre um blog.

Acrescentar um estrangeirismo à lingua, desde que - realmente - não exista já um equivalente nessa mesma língua, não é empobrecê-la: é, pelo contrário, enriquecê-la.

Mas escrever mal, seja por desconhecimento, seja por facilitismo (inventei, ok?), isso sim, choca-me!

Choca-me realmente que cada vez menos pessoas saibam escrever bem!

Dantes, em Portugal, havia elevadas taxas de analfabetismo.
Hoje, temos uma elevada taxa pessoas com a escolaridade obrigatória mas que não sabem escrever!

Dantes tínhamos uma ditadura que obrigava as pessoas a aprenderem a tabuada, os rios e afluentes, as linhas ferroviárias e respectivos ramais e que punia fisicamente quem desse erros nos ditados.
Hoje - e sou o mais anti-Antigo Regime que se possa imaginar! - temos um governo que tem de apresentar contas à Europa das taxas de sucesso escolar e que facilita ao máximo para evitar o fracasso! Que as pessoas terminem o 9.º ano (escolaridade obrigatória) sem saberem expressar-se correctamente na sua própria língua não é convergência com a União Europeia, é o assassinato do futuro à nascença!

Hoje, cada vez há mais jovens a dizer "bué da cenas fixes", e a "curtir uns sons à maneira" que parecem nunca ter ouvido falar num complemento circunstancial de lugar, que não sabem o que é uma analepse e não tem a mais leve ideia do que seja um anacoluto.

E assim, por muito bons profissionais que um dia possam vir a ser nos diferentes ramos vai-lhes ser difícil comunicar. E o mercado são comunicações, são conversações, são trocas de ideias através de convenções comuns aos interlocutores. Se uma das partes desconhece a convenção, alguém corre o risco de comprar gato por lebre!

Mas se a culpa é, em parte do governo - dos sucessivos governos das mais variadas cores, diga-se em abono da verdade -, não deixa de ser dos próprios pais - que, pelas mais diversas razões, se demitem da sua função de pedagogos -, não deixa de ser dos professores - mal formados, já de si, por culpa dos mesmos governos -, nem deixa de ser da comunicação social, onde os jornalistas - também frutos das mesmas políticas educativas! - cada vez sabem menos e cada vez falam pior!!

Como se tudo isto não bastasse, o governo de Guterres - o mesmo que afirmou a sua "paixão pela educação" - quer acabar com o ensino de Os Lusíadas no secundário!

Que mais nos irá acontecer?!

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