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Lisboa em Agosto

É Agosto, mês de férias. Eventualmente, este é um dos melhores meses para se viver em Lisboa. Quem não a ama, consome os dias em infernais filas intermináveis rumo à Costa ou ao Algarve. Quem não a ama, foge daqui a sete pés, em conjunto com todos os outros milhares de pessoas que diariamente para aqui vêm trabalhar, queixando-se do trânsito. Agora, estão todos satisfeitos na mesma fila de trânsito a caminho da mesma praia, onde vão queixar-se todos do mesmo excesso de veraneantes... Eu? Eu fico por Lisboa. Tenho-a toda só para mim! As ruas estão quase desertas, os carros são poucos, os transportes públicos estão libertos e arejados. Lisboa dá-se-me em cada Agosto. Entrega-se-me como uma amante apaixonada e sem peias. E eu retribuo-lhe em dobro o seu amor, com toda a ânsia de quem sabe que o tempo chega ao fim, que Agosto acaba e que os romances de férias têm outras formas de continuação - mas nunca se repetem! Ou talvez só no próximo Agosto!!

Enlaçar-te de carinhos como Amo esta Lisboa

Queria conhecer o teu corpo como conheço esta Lisboa, cada esquina, cada beco, cada rua, cada viela... Queria percorrer-te as linhas, acariciar-te os seios com o deleite de descer Alfama e tocar o Chafariz. Queria descobrir-te os segredos, os gemidos e os ais como desfloro recantos de uma Baixa abandonada. Queria cobrir-te de beijos como abraço a Madragoa e enlaçar-te de carinhos como Amo esta Lisboa. (c) Dulce Dias – 1998-03-20

Calcorrear Lisboa

Enquanto o Sol beija o Tejo desço a Rua do Alecrim aspirando olisipos odores. Para trás fica o Chiado, à espera que "o metro em Pessoa" se abeire da velha Brasileira. Sorvo o ar matinal - invadido de perfumes de mulheres bonitas - e sinto renascer em mim energias redobradas. Uma nova vontade invade-me - com a intensidade das cores dos prédio RECRIAdos que se me imprimem na retina – e impele-me a ir mais alto, mais forte, mais longe. Calcorrear Lisboa é ter coragem de assumir o sonho - todos os sonhos! - é acreditar que tenho direito a tudo, e ter Força para lutar por isso. Calcorrear Lisboa é saber que o mundo é maior que o pensamento, é assumir o NÃO gritado às segundas escolhas, é despir-me de preconceitos e mágoas e vestir-me de luta e de conquista. Como o Martin, eu também tenho um sonho. - E vou lutar por ele! (c) Dulce Dias – 1998-01-19

Do Tejo até Cascais

Há um Tejo a banhar-se nas margens desta Lisboa - e mesmo para lá dela. A trovoada enraiveceu este Tejo manso que se joga sobre a costa como as lavadeiras de antanho batiam as roupas nas pedras da ribeira. Lisboa e o Tejo amam-se. A forma como ele se arremessa sobre ela é a de um amante apaixonado e sequioso de amor e de amplexos de prazer. Em face de mim, um casalinho pouco mais do que adolescente transborda a sua paixão em beijos e pedidos de carinho - logo, logo satisfeitos. O sol invade este velho combóio e uma aura doce liberta-se do jovem casal. O Tejo perdeu o azul da manhã, tornou-se cinzento raiado de espuma branca, e estende se agora ao longo da Marginal, molhada, ela, da chuva de há pouco. Agitadamente, ele, vai murmurando a sua fúria em direcção à barra. O céu quis contrariá-lo. Despiu-se do seu fato cinzento-trovoada e vestiu-se de anil, também ele, no entanto, raiado de branco, do branco das nuvens que passam em fato de passeio. As palmeiras e os abetos que convivem ao lo

Quero colorir esta Lisboa

Esta noite, Lisboa adormeceu chuvosa. Mas quem a ama, sabe gostar dessas suas lágrimas que a lavam e rejuvenescem... Quero colorir esta Lisboa Quero colorir-te, Lisboa. Expressar no papel as impressões dos verdes, dos rosas, dos ocres. E dos azuis também. Quero rasgar-te de Luz beijar-te de Rio e amar-te despida em cada manhã de sábado. Percorro-te as entranhas de escadas e escadinhas muito tímidas. Perscruto-te a alma de cada água-furtada aberta sobre a Vida. As minhas mãos querem acariciar o teu corpo quente. No entanto, estás fria, enrugada, velha e gasta. Caem-te os cabelos, curvam-se-te as costas, choram-se-te as portas enferrujadas. De ti, prostituta de rosto sofrido, queria ser teu cirurgião: fazer-te um lift ou outro que tal, recuperar-te a fronte e elevar-te o sorriso - com franqueza! até uma prostituta deve ser bela! E tu és o fogo que me alimenta a alma. Acalmas-me o espírito em lojinhas de bairro. Desejas-me bons dias em gatos vadios ou lambes-me as lágrimas com teus raios

Adeus a Sapadores

Ainda e sempre no baú inédito dos meus rascunhos! Adeus a Sapadores Coimbra tem mais encanto, na hora da despedida . E Sapadores tem a mesma magia de sempre. Fui hoje despedir-me daquele 4.º andar do n.º. 7 da Rua Capitão Humberto Ataíde. Não vou negar a pena que senti por deixar aquelas escadas íngremes e velhinhas, por não voltar a ver a nesga de Tejo que me fazia agradecer por acordar viva. O sol lavava o rio em cada parto matinal e, juntamente, as minhas mágoas e dores. É um sol que não voltarei a ver igual, por vezes baço e fazendo um esforço para romper o nevoeiro que resguardava o rio, outras vezes imponente e majestoso, erguendo a sua força sobre um rio que traz à cidade um turbilhão de gentes ensonadas e violentadas no sono da manhã. Como é linda a minha cidade com a cara lavada por uma manhã de sol primaveril! Mas agora tenho à minha frente este mar infindo, e por isso fui dizer o derradeiro até sempre à minha mansarda tão alta que nem em cima de uma cadeira lhe conseguia tro

Prefiro uma nesga de rio a uma imensidão de mar

Sem computador e numa casa desfeita, sinto-me só e sofrida. Deram-me o sol inteiro e um oceano a perder de vista. Em troca, levaram-me a minha nesga de rio e a minha cidade fetiche. O meu ancien quartier foi substituído por um bairro novo-rico e muito kitsch , de casas quadradas como paralelepípedos tombados e de elevadores que impedem as pessoas de comunicar. Tudo o que sempre não quis veio para mim, como castigo. Sofro, é verdade, e ninguém sabe porquê, porque gosto tanto desta cidade de sete colinas íngremes que só sabem amar a quem as ama e as respeita; porque gosto tanto do triângulo de rio que me espreita em cada manhã, e agora cada vez mais intensamente porque ele e eu sabemos que é o adeus. Um adeus aos lamentos futuros com cheiro a saudade das noites de raiva, de prazer, de nostalgia... Ninguém sabe compreender que eu prefira uma nesga de rio a uma imensidão de mar. Mas sou assim. Gosto de águas-furtadas com cheiro a História, de escadas íngremes e protectoras de intrusos, de

O que em mim ficou desarrumado

Olá!! Dois blogs é "trabalho" a dobrar, mas é também prazer a dobrar. Para já, faço convosco, leitores, um pacto: Vou tentar manter independentes os temas tratados num lado e noutro. Evitarei repetir o mesmo assunto, o mesmo tema. Trata-se de dois espaços com espíritos diferentes, que devem ser respeitados. Assim, aqui continuarão os esquissos de prosas e de poesias, a Lisboa e os outros amores. Lá, ficam os debates da Liberdade. Feita a ressalva, aqui deixo o rascunho de hoje. Um leitor-amigo perguntou-me se não escrevo poesia... e acabámos a trocar poemas. Escrevo pouca poesia, é certo. Mas, para testar reacções, hoje tirei este esquisso de soneto do baú e pu blog uei-o! Espero que também gostem! O que em mim ficou desarrumado Arrumei, outrora, um pecado meu como costumo arrumar tudo mais. Pensei, naquela altura, que jamais abriria esse armário cor de breu. Enganei-me. A vida prega, afinal, estas partidas: remexe gavetas, abre memórias, cava valetas. Apunhála-nos de forma b

Livres

Acabei de ser convidada pelo Sérgio Buaiz - que eu "conheço" de outras lides mais marketinguianas - para participar no blog Livres ( www.livres.com.br ). Para mim, é uma imensa honra ombrear com autores como o Sérgio, o Hernani Dimantas e, claro, o "pai" do meu blog, o Paulo Bicarato ! Espero, sinceramente, estar à altura da liberdade, da discussão e da interrogação. Obrigada a todos!

Lisboa (marcha popular)

Lisboa tem tradição de Marchas Populares. Pelo Santo António (13 de Junho) os Bairros populares descem às ruas, desfilando canções e vaidades. Algumas dessas canções passaram a fazer parte do imaginário colectivo lisboeta e quem ama Lisboa, vibra com elas. Deixo aqui umas das marchas mais populares de sempre. Os interessados, podem ouvir o mp3 em http://alfa.ist.utl.pt/~tuist/sons/lisboa.mp3 Lisboa Letra e Musica: Vários; Arranjos: Manuel Correia/Mário Fernandes Lisboa cheira aos cafés do Rossio E o fado cheira sempre a solidão Cheira a castanha assada se está frio Cheira a fruta madura quando é verão. Nos lábios tem o cheiro de um sorriso Manjerico tem o cheiro de cantigas E os rapazes perdem o juizo Quando lhes dá o cheiro a raparigas. Lisboa gaiata, de chinela no pé Lisboa travessa, que linda que ela é, Lisboa ladina, que bailas a cantar, Sereia pequenina que Deus guarda ao pé do mar. Lá vai Lisboa Com a saia côr do mar E todo o bairro é um noivo Que com ela vai casar. Lá vai Lisboa

Ainda a Lisboa Abandonada

Apesar da minha já longa experiência com a capacidade de interacção que a internet provoca, esta não deixa, contudo de surpreender-me. Depois de ter aderido à mailing list da Lisboa Abandonada , preparei-me para ir à descoberta da nossa primeira reunião. Eu sei que podemos fazer daquela ideia o que nós quisermos - está na nossa mão -, mas sinceramente não esperava que tantas pessoas acreditassem no mesmo! Não esperava encontrar cerca de trinta pessoas, reunidas numa sala gentilmente cedida por outra organização, empenhadas em recuperar esta Lisboa que todos nós amamos. De estudantes a executivos, de físicos a psicólogos, passando por arquitectos, construtores civis, jornalistas e outros profissionais da comunicação, havia lá de tudo. Mais de trinta pessoas das mais variadas idades, decididas a fazer o possível para salvar Lisboa do abandono. Gostei. Gostei mesmo de lá estar. E vou gostar mais ainda dos desafios que me esperam enquanto membro activo deste embrião de associação. Quem est