Poliglota ou polipalhaço?

Durão Barroso discursou hoje no Parlamento Europeu. A eurocâmara tem esta característica fantástica: é a única instituição europeia que tem 20 - VINTE - línguas oficiais de trabalho, tantas quantas as línguas oficiais principais dos 25 Estados membros da União Europeia.

Premissa: cada eurodeputado, isto é, cada representante eleito pelos cidadãos europeus, tem o direito de se exprimir e de ouvir na sua própria língua.

Para tal, uma bateria de tradutores-intérpretes trabalha para o Parlamento Europeu. É uma máquina linguística que custa, anualmente, 225 milhões de euros ao erário público europeu - isto é, 50 cêntimos a cada um de nós, a cada um dos 450 milhões de habitantes europeus, todos os anos.

Ora, Durão Barroso fez tábua rasa da premissa, armou-se em despesistas e resolver falar em todas as línguas que aparentemente conhece, negando aos 24 eurodeputados portugueses o direito - consagrado no regulamento do europarlamento - de ouvirem o discurso de um político português em português!

Estou habituada a acompanhar os discursos no Parlamento Europeu - ossos do ofício - e, garanto-vos, esta foi a primeira vez que vi um político fazer algo semelhante.

Quando Durão Barroso começou por se dirigir em castelhano ao recém-eleito presidente do Parlamento Europeu, não fiquei chocada. Dizer "Buenas tardes señor Presidente, gracias por recibirme aquí" não me chocou absolutamente nada. É corrente, no Parlamento Europeu, os políticos darem as boas-vindas ou cumprimentares os anfitriões na sua própria língua. Logo de seguida, Barroso continuou o discurso em português. Mas cerca de 10 minutos depois começou, verdadeiramente, o show off. Durão Barroso continuou le discours em francês e alguns minutos depois fez o switch para o inglês.

Algumas horas antes, Jan Peter Balkenende, o primeiro-ministro de um PEQUENO país - a Holanda - e presidente em exercício do Conselho da União, apresentou na mesma assembleia o seu programa de trabalho para o semestre... em neerlandês!

Balkenende, que por acaso também fala várias línguas, não precisa de fazer palhaçadas para chamar a atenção. Balkenende defende, por gestos assim tão simples, a identidade da sua própria língua.

Nós sabemos que se espera que o presidente da Comissão Europeia domine mais do que uma língua. Mas nós também sabemos, como todos os eurodeputados - mesmo os não portugueses - já sabiam, que Durão Barroso fala fluentemente francês e inglês.

O que nós NÃO sabíamos era até onde se pode rebaixar um homem, até onde se pode rebaixar a cultura, a língua e a identidade de um País!

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