De como os portugueses sabem viver a vida ou a frigidez francesa
Passados os choques iniciais da chegada a Lyon, começo - mais de um mês depois - a usufruir da vida francesa. De tal forma que ganhei coragem para me meter sozinha num TVG e partir de Lyon à descoberta da Cidade-Luz - que já me disseram ser escura e sombria. De Lyon, ainda conheço pouco. Falta-me um rio com a dimensão do Tejo para me orientar. O Ródano e a Saône não se comparam com o lar das Tágides - nem em dimensão nem em cor. Enlameados e encurralados, correm um para o outro com uma celeridade tal que envergonharia os amantes mais sôfregos. O meu Tejo, pelo contrário, reserva-se o tempo de se espraiar, deleitando-se no sopé das várias colinas de Lisboa, que beija com a sua língua cor de céu. Lisboa tem sete colinas; Lyon, apenas duas - a que reza e a que trabalha -, orgulho dos leoneses. Lisboa é uma mulher voluptuosa; Lyon é um ente andrógino e escorrido. Ao clima incerto da região - ora gélido e cortante, ora abrasadoramente sufocante -, junta-se uma população burguesa e fria...