"O atraso histórico" do Portugal do Sr. Henrique Raposo

Henrique Raposo, no Expresso, escreveu: "Nós rejeitamos os emigrantes porque eles nos fazem lembrar aquilo que queríamos esquecer: o atraso histórico de Portugal." Estou perfeitamente de acordo com ele!

Mas apenas nesta frase! É que Portugal continua, HOJE, um país atrasado. Não são os emigrantes que têm " modos 'rurais'". É Portugal que tem continua a ter modos rurais. Mesquinhos. Invejosos. Intriguistas. Fanfarrôes.

É o Portugal do Sr. Henrique Raposo que me incomoda. O Portugal que ficou parado em 1979. - Já agora porquê 1979, Sr. Henrique Raposo?? A maioria dos emigrantes que parecem incomodá-lo saiu de Portugal antes de 1979, aliás, antes mesmo de 1974... Mas você, douto conhecedor, parece ter esquecido o grande êxodo da década de 60 do século passado...

O Sr. Henrique Raposo fala das "fanfarronas bombas de matrícula amarela" nas quais os emigrantes supostamente regressam à Pátria. E eu a pensar que os aviões da TAP eram brancos! E eu a recordar uma data de gente - talvez como o Sr. Henrique Raposo - que, em Portugal, quase não tem um "tosto" para mandar cantar um cego, mas investe tudo na "bomba" último modelo, com todos os acessórios - de preferência alemã, que é segura! Sim, que isto de comprar "um carro que ande" não é para Português que se preze. Português que se preze continua a comprar, em prestações infindáveis, um carro que custa mais do que o salário de todo um ano de trabalho e que consome mais em combustível por semana do que a factura do supermercado do mês inteiro.

O parque automóvel da "Europa rica" de hoje, Sr. Henrique Raposo, tem menos "fanfarronas bombas" do que as que existem no Portugal pobre. Ou já se esqueceu, o Sr. Henrique Raposo, que ainda há bem pouco temo, o vale do Ave era a região da Europa com o maior número de Ferraris por metro quadrado?

Num país como a França (sexta economia mundial, se não me engano...), por exemplo, a quantidade de carros em circulação com mais de dez anos é certamente muito superior à que se vê em Portugal. Não, não tenho dados concretos sobre o que digo - mas tenho olhos, que parecem ver melhor do que os do Sr. Henrique Raposo.

Os carros são apenas um dos inúmeros exemplos deste Portugal que vive da imagem: "O meu carro é maior do que o do meu vizinho"; "A minha televisão é em 16/9" (mesmo se depois - como não ninguém sabe utilizar os bons formatos - a bola de futebol acaba por parecer um balão de rugby!); "O meu iPhone, comprei-o assim que saiu" (a prestações, claro...!). Aliás, sintomático deste parecer ser em que Portugal vive é o próprio discurso do Sr. Henrique Raposo: "Os modos 'rurais' do emigrante recordam-nos que as marcas da modernidade só chegaram a Portugal na geração dos meus pais." Pois, Sr. Henrique Raposo, as marcas chegaram a Portugal, mas a modernidade nem por isso! Ter um iPhone pode parecer uma marca de modernidade. Mas a verdadeira modernidade é saber abrir-se aos outros. E não há iPhone que o faça!

Quando os colunistas da praça lusa, como o Sr. Henrique Raposo, continuam a escrever, em 2009, que "nos subúrbios de Paris, eles [os emigrantes] congelaram os 'Portugais' do antigamente, e, em Agosto, trazem esses 'Portugais' nas geleiras, entre minis e bifanas" temos a prova provada de que a abertura de Portugal ao mundo continua por fazer.

Sr. Henrique Rapsoso, quantos dos cerca de 5.000.000 - eu escrevo por extenso e em maíusculas, para perceber bem: CINCO MILHÕES - de emigrantes espalhados pelo mundo é que o Sr. conhece? Quantos empresários portugueses na "Europa rica" conhece o Sr.? Quantos professores? Quantos médicos? Quantos cientistas? Quantos académicos? Acha mesmo que regressam todos a Portugal em Agosto, nas " fanfarronas bombas de matrícula amarela", com o "garrafão" e as "minis e bifanas" na geleira, enquanto a cassete fanhosa continua a vomitar os dramas dos emigrantes de Graciano Saga?!

Realmente, Agosto em Portugal é um mês que incomoda. É o mês em que muitos daqueles que tiveram coragem para partir à conquista do mundo, daqueles que souberam abrir-se aos outros e à modernidade, que evoluíram, que viram coisas diferentes e podem fazer comparações, chegam a Portugal e dizem para si próprios: "A sofisticação académica e cultural" afinal, ainda não chegou a Portugal.

Comentários

Anónimo disse…
Recordo algumas letras de canções:

- ai Portugal Portugal...de que é que estás à espera?

- assim vai Portugal...uns bem outros mal

Mas hoje, a música foi outra. A Dulce e seus Esquissos...simplesmente MAGNÍFICO!!!
Querida Dulce, o senhor Henrique Raposo falará por ele, porque no saco em que ele pretende colocar todos os portugueses eu não me incluo.

A mim não me incomoda nem os emigrantes nem os imigrantes, mas incomoda-me sim a arrogância dos que nascendo por cá e por cá se finam, são incapazes de perceber que o mundo vai mais além do que os seus umbigos e rotulam de boçais e outros epítetos aqueles que arregaçam mamgas e produzem algo de útil à sociedade.
Já o invés não me parece acontecer, o senhor parece que escreve, mas apenas a destilar ressabiamentos e veneno contra quem nem ele conhece nem nunca irá conhecer.
Enfim, dar-lhe importância é colocar este homensinho num patamar de humanidade da qual não me parece fazer parte.

Sim ele está muito para lá do nada.

Amiga, DD, daqui da parvolandia te envio aquele abraço apertado corroída de saudades de anos que não te vejo mas sempre lembro.

Beijo com muita amizade.

Leonilde
jose c. monica disse…
O sr. Henrique Raposo dos seus apenas 30 anos de idade,não sabe bem do que fala.
De sentir-se incomodado pelos emigras chegarem com altas bombas.
E???????????
É ele que as paga?
É o contribuinte residente em Portugal que as paga?
Quiçá, tem inveja.
Como será que o Sr. Raposo terá conseguido?(Henrique Raposo é colunista do Expresso. Investigador no IPRI e no IDN. Foi editor da Atlântico, onde colaborou desde o primeiro número. Colaborou com o Independente, Público, Diário de Notícias e Nova Cidadania. Licenciado em História Contemporânea, pós-graduado em História das Relações Internacionais e Mestre em Ciência Política. Tem 29 anos.)
Será que foi de forma correcta como os que tiveram que sair do país,analfabetos ou não,para conseguirem algo na vida?
Eu também fui um desses e ainda bem.
Jornalismo deste calibre só serve realmente para uma coisa,há falta de castanhas para embrulhar...
Vivo novamente neste país desde 1992 e há tanto que me incomoda.
Um país de elefantes brancos,de invejosos ,fanfarrões(recordes disto e daquilo)país dos tachos e panelas,um triste país.
Será que este Sr.também não contribui para que que continue assim?
Anónimo disse…
Épa este tipo só merece os "Homens da Luta" a bezourarem à volta das orelhas dele. São só invejosos pá, querem é continuar a sustentar o povo na ignorância pá e na pobreza pá, para dar legitimidade a essa corja de políticos e de meninos de bem pá, ridículos e tão inteligentes como um garrafão de vinyho, com cabelinho à matagal e calcinhas vermelhas Hilfiger a darem pela canela pá. Não perdem pela demora, pá, um dia estes 5 milhões de tugas com a escola vão aí dar uma lição aos meninos pá. "Dá-lhe Falâncio!" Este Henrique Raposo, este Henrique Raposo, este Henrique é homem da reacção! kiri kiri kiki kiri kiri kiki kiri kiri kiki kiri kiri.
Um abraço do Hernani do Luxemburgo.
P.s.: épa ainda nunca ouvi Graciano Saga. Tenho que ir carregar isso à net. Não quero morrer burro e ignorante por estar a ignorar a nossa cultura popular! Esta é para ti Henrique Raposo
Anónimo disse…
Não deixa de ser interessante como a imagem que passa do emigrante , continua a ser a mais negativa a mais "pimba e bacoca" e ao mesmo tempo a mais insípida, ignorando por completo os motivos que levaram os emigrantes portugueses a sair do "nosso Portugal", ignorando também a riqueza social e cultural que a diáspora nela transporta e difunde, agravado ainda com o desprezo que se dá ao carinho e afecto que todos estes emigrantes nutrem pelos seus familiares e amigos e porque não do seu país, que será certamente a verdadeira razão pela qual regressam (a ostentação só vem depois).

Pena ainda que a resposta quase enverede pelos mesmo caminhos . . . .
Anónimo disse…
Uma verdade que incomoda...
A uns duma forma, a outros de outra...

Gostei :)
diáriodesusete disse…
Deixei uns 3 ou mais comentários no Expresso. Entretanto creio que so um apareceu...o resto foi eliminado (e eu que não dizia nada de mais). A minha sincera opinião. Parece que começo a dar razão ao Gil: "Portugal hoje, o medo de existir"... Sou emigrante and i'm proud of that.:)bjs Susete