Pequeno-almoço na FNAC

(Aqui vai mais um texto meu, repescado do baú das recordações. Foi escrito subitamente no Verão passado e é mais uma homenagem ao Gato da minha vida... )


Pequeno-almoço na FNAC

Chaussons aux pommes ou talvez não. Sumo de laranja certamente. E um café. Curto. Eram oito e meia da noite e estávamos a tomar o pequeno-almoço. Naquele sábado sem história, ríamo-nos do mundo e dos outros. Rodeados de livros e discos, sentados nos bancos altos à volta da pequena mesa preta e redonda, éramos felizes. Ao nosso redor, outras gentes, outras vidas passavam com ar atarefado. A noite aproximava-se mas, para nós, o dia acabara de começar. Porque a noite fora longa e terminara à hora a que as convenções dizem ser do jantar.

Mas nós alimentávamo-nos de amor e de desejo. Rebolávamos na cama como gatos, ronronávamos palavras de amor e amávamo-nos. Ríamo-nos sem razão, porque basta amar para ser feliz.

Estávamos no centro de Lisboa, mas sentíamo-nos no mais longíquo deserto, porque o nosso mundo éramos nós. Tínhamos aquele sorriso estúpido estampado no rosto, que só quem nunca esteve apaixonado não percebe. Dávamo-nos as mãos e abarcávamos a eternidade. A vida concentrava-se em doses incomensuráveis nesse sábado de preguiça e de amor.

O sol já se pusera, mas a chama que nos aquecia iluminava mais do que o astro-rei. E, sob a lua nívea, a nossa vida reflectia brilhos dourados.

(c) Dulce Dias - 2003-09-26

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