Esta Cascais de que teimosamente não quero gostar
Nesta Cascais de que teimosamente não quero gostar – mas sobre quem leio tudo o que me oferecem -, não fossem os passeios aos correios para levantar encomendas e passaria por ela sem sequer dignar-me olhá-la.
E hoje, em mais um desses passeios obrigatórios até aos Correios perto do Hospital – este último ainda nem descobri onde é! -, lembrei-me de que, provavelmente, do que não gosto, não é da vila, sim das pessoas: snobs, vaidosas e provincianas na sua Cascais-umbigo-do-mundo.
Gente que não veste se a marca não tiver sotaque francês ou italiano. Gente que se fecha na sua pretensa qualidade-de-vida-que-só-existe-fora-de-Lisboa. E que não vê que a baixa cascaense vive de domingo a domingo atulhada de carros e dessa mesma gente – mas mais apressada do que gostaria de admitir.
É uma gente que me incomoda, do alto do seu novo ou velho riquismo, ou mesmo inexistente, olhando-me como se eu – de Lisboa e Vale do Tejo – fosse a provinciana.
São, pois, as pessoas que me desagradam mais do que tudo em Cascais. Que a vila, vazia de gente, talvez seja bela. É uma questão de olhar cada ruela, cada beco, cada prédio – velho ou novo – com o terrível exercício de abstracção de que lá passa, ninguém lá mora, ninguém lá habita!
Dessa perspectiva, Cascais é bonitinha. Não tão bela como a minha Lisboa, onde o sol se reflecte em mil esquinas, pormenores e luzes; onde a cidade é bela – com ou sem bípedes – no seu todo. Onde a vida pulsa num microcosmos metropolitano e cosmopolita. Mas onde o silêncio e a calma – que os cascaenses reclamam só existir nesta nesga de vila – estão lá... para quem sabe ouvi-los.
(c) Dulce Dias – 1996-11-18
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