Confluência
Fui lá. Lá onde a terra acaba e o rio começa e eu nunca tinha imaginado como seria. É um local único, onde o sol se abate sobre a relva e o olhar se estende sobre o azul que desce para Sul. Sem sobressaltos, é um rio que se esvai noutro rio e que, no momento, são já só um. Dois amantes em sintonia perfeita, dois corpos liquefeitos que se repousam um no outro e cujos limites perdem a razão de ser. Ali, na confluência da Saône com o Ródano, a Presqu'Ile não é mais do que uma língua que acaricia aquele corpo único que naquele mesmo local se forma. O rio tem então o ar de dois amantes enlaçados no repouso sucede à fruição. As margens, de contornos suaves e doces curvas, lembram ancas femininas. A ondulação que vem beijar a terra é como uma mão masculina que acaricia os cabelos da amada. Sobre eles, abate-se um sol morno e tímido de começo de Primavera com uma luz velada e amorosa. É uma perfeição talhada por mãos humanas mas que finge ter sido feita assim pela Natureza. Como uma