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A mostrar mensagens de novembro, 2001
Abandono Tenho lágrimas nos ossos e chuva no rosto. Secam-se-me as vestes no frio do corpo. Inerte. Torpe. A mente atrofiada fala-me de futuros de loucura onde a impressão da dor imprime sulcos de cor na noite sórdida da vida. Caem-me os dentes. Partem-se-me as pernas. Tombam os sonhos que nem quimeras amarfanhadas em moinhos de ventos... nucleares. Sou menos que um átomo na poeira cósmica, menos que a pulga em pêlo fofo, menos que a gota em poça suja. Menos que ele, menos que o outro e aqueloutro e mais alguns. Sou a imagem do meu farrapo - que o meu farrapo já se puiu. Sou o murmúrio do meu silêncio - que o meu silêncio se prostituiu. Eu sou aquele e sou o outro e muitos outros e mais alguns. Sou o queiras ou que não queiras, sou o que seja o teu clamor. Sou um Van Gogh, un Einstein, Sou um Tchaikovsky, um Eisenstein. Eu sou aquele e sou o outro em todos eles eu me reencontro. E em mim me perco - por mim me perco e fico ma
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1 0 0 0 O Esquissos ultrapassou ontem, dia 19 de Novembro, as 1000 visitas (eu não conto, garanto!) desde que instalei o contador, no passado dia 23 de Agosto. A todos os leitores que têm contribuído para este simbólico número, o meu Muito Obrigada . * Copyleft da imagem: Afrodite sem Olimpo
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A minha outra paixão: G - A - T - O - S !!! Entrei na "onda" dos "Patrocínios"! É que eu, que tenho uma verdadeira idolatria por gatos, encontrei este! Lindo, delicioso, imponente e único!!! A Meg que me perdoe, mas resolvi "adoptá-lo" - com o patrocínio do Sub Rosa . Como li algures: Todo o dono de gato sabe que os gatos não têm dono... É por isso que gosto deles! ;-)
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Hoje deixo aqui um poema de uma das minhas poetisas preferidas: Florbela Espanca. A mulher que Vila Viçosa viu nascer e que todos nós ouvimos ser cantada pela voz dos Trovante . Ser Poeta (Perdidamente) Ser poeta é ser mais alto, é ser maior Do que os homens! Morder como quem beija! É ser mendigo e dar como quem seja Rei do Reino de Aquém e de Além Dor! É ter de mil desejos o esplendor E não saber sequer que se deseja! É ter cá dentro um astro que flameja, É ter garras e asas de condor! É ter fome, é ter sede de Infinito! Por elmo, as manhas de oiro e de cetim... É condensar o mundo num só grito! E é amar-te, assim, perdidamente... É seres alma, e sangue, e vida em mim E dize-lo cantando a toda a gente! Florbela Espanca Se desejar saber mais sobre Florbela Espanca, consulte a biografia publicada por Vidas Lusófonas - a quem agradeço o copyleft da imagem.
O cão preto da Praça José Fontana Gosto do jardim da Praça José Fontana. É pequeno, acolhedor e híbrido... sui generis nas gentes estranhas, diferentes, bizarras e heterogéneas que diariamente o povoam. Por vezes, pela manhã, o sol irriga de vida os canteiros molhados ainda do orvalho nocturno. Os pombos passeiam-se junto ao bebedouro público, ou então debicam os vermes à superfície da terra recém-arada pelos jardineiros camarários. Nos vários bancos daquele pequeno jardim há um melting pot à dimensão alfacinha. Mendigos e sem-abrigo contam estórias da vida uns aos outros, sonhando, quiçá, com uma outra vida que não conseguem ter. À hora do almoço, naqueles mesmos bancos, encontramos yuppies nos seus fatos Armani, indiferentes a quem, no banco ao lado, pouco tem para vestir. Sob outra árvore, sobre outro banco, escriturárias pirosas comem umas sandes, depois de terem gasto o dinheiro ali, na Zara, em roupas sempre iguais que fazem questão de mostrar às amigas. H
À descoberta de Cecília Meireles II Sub rosa , o blog da Meg, está repleto de informações sobre a poetisa. Biografia, bibliografia, poemas e homenagens. Um pouco de tudo para descobrir, ou conhecer melhor, esta poetisa que foi casada com um português e cujo mérito foi reconhecido aqui, em Portugal, pelo saudoso Vitorino Nemésio, se bem me lembro... A visitar mesmo: Sub rosa !

À descoberta de Cecília Meireles

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O mercado são conversações, diz o meu ciber-amigo Hernani a toda a hora. E conversar é comunicar, é trocar experiências, é ensinar, é aprender, é partilhar. Daqui - de Portugal - para lá - no Brasil -, tenho tentado partilhar a minha cidade e a nossa literatura. Levar um pouco dos escritores portugueses até terras de Vera Cruz. De lá para cá, muitos ciber-amigos me apresentaram nomes - vários, bons - que eu não conhecia. Entre eles está Cecília Meireles, a poetisa cujo centenário hoje se comemora. Apelando à minha *sensibilidade* (!!) – " pela beleza que tenho lido no seu [blog], adivinho-a sensível: então, estou pedindo a todos os *bloggers* que no dia 6 para 7 de novembro coloquem um post em homenagem à maravilhosa poetisa brasileira CECÍLIA MEIRELES cujo centenário comemoramos " -, Meg Guimaraes ( Sub Rosa ) desafiou-me a participar desta homenagem. Para quem não conhece (como um dia eu também não conhecia), aqui fica um poema de Cecília Meireles - " voz única na poe

Sobre as avós...

A Ana acabou de fazer um comentário à homenagem Sem título - só com dor que, no Dia de Finados, prestei à minha Avó: "Avós deveriam ficar junto aos netos para sempre. Nunca ninguém é crescido o bastante pra ficar sem avós. Eu não sou." A frase é da Anna Barbara . Obrigada às duas. Subscrevo também.

Cântico Negro

Se eu tivesse de eleger um poema como sendo "O poema", seria este aqui. Cântico Negro "Vem por aqui" - dizem-me alguns com olhos doces, Estendendo-me os braços, e seguros De que seria bom se eu os ouvisse Quando me dizem: "vem por aqui"! Eu olho-os com olhos lassos, (Há, nos meus olhos, ironias e cansaços) E cruzo os braços, E nunca vou por ali... A minha glória é esta: Criar desumanidade! Não acompanhar ninguém. - Que eu vivo com o mesmo sem-vontade Com que rasguei o ventre a minha mãe. Não, não vou por aí! Só vou por onde Me levam meus próprios passos... Se ao que busco saber nenhum de vós responde, Por que me repetis: "vem por aqui"? Prefiro escorregar nos becos lamacentos, Redemoinhar aos ventos, Como farrapos, arrastar os pés sangrentos, A ir por aí... Se vim ao mundo, foi Só para desflorar florestas virgens, E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada! O mais que faço não vale nada. Como, pois, sereis vós Que me dareis machados, ferra

Sexta-feira ao entardecer

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Vi o sol pôr-se sobre o Tejo, enquanto os edifícios de Lisboa se iam recortando no cinzento em que o azul do céu se transformava. Na Ribeira, o anil celeste iluminou-me o olhar, repleto, já de si, de esperanças no futuro. Deixei-me impregnar pelo cheiro de maresia e pelos odores que se desprendiam das lojas de bairro que ainda povoam a zona ribeirinha da minha cidade. E, de repente, já nada era igual àquela calma de há minutos. Subir a Avenida da Liberdade em hora de ponta, numa sexta-feira outonal acariciada por um sol dourado, é entrar num inferno de ruído, raiva e multidão. Os condutores atropelam direitos cívicos, os carros buzinam palavrões, os semáforos, aparentemente sempre vermelhos, suscitam ódios viscerais. Como formigas que perderam a sua rainha, os peões movimentam-se em carreiros em percursos de vida que parecem ter perdido o nexo. E continuo a subir aquela artéria principal, com o Tejo, por trás, a acariciar-me as memórias de dois dias de aprendizagem intensa. Depois do M

Sem título – só com dor

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Hoje, 2 de Novembro, é Dia de Finados, dia de ir aos cemitérios e de colocar flores nas campas. Não é meu hábito prestar esse tipo de homenagem. Por isso, para ti, Avó, aqui fica a minha singela homenagem. Sem título – só com dor Cascais ficara para trás. O percurso sinuoso do comboio, acariciando a Costa do Estoril, beijando as suas praias, permitia observar aquela baia azul povoada de iates e banhada de sol. Em breve é Lisboa que se avizinha, o Tejo de águas sujas que não consigo deixar de amar. Embalada pelo sincopado movimento daquele cavalo de ferro, fecho os olhos lentamente. É então que o telemóvel toca. Estas maravilhas da tecnologia que nos fazem estar contactáveis nos lugares mais inóspitos e nos momentos mais inoportunos. Porque nenhum momento é oportuno para a morte. Muito menos para a tua, Avó. Eu sei que ninguém é eterno. Sabia-te doente. Sabia que já aguentaras mais do que um dia supus que aguentasses... Mesmo assim não foi oportuno. Não foi justo. Não tinhas o direito