Sem título – só com dor

Hoje, 2 de Novembro, é Dia de Finados, dia de ir aos cemitérios e de colocar flores nas campas.
Não é meu hábito prestar esse tipo de homenagem. Por isso, para ti, Avó, aqui fica a minha singela homenagem.

Sem título – só com dor


Até um destes dias, AvóCascais ficara para trás. O percurso sinuoso do comboio, acariciando a Costa do Estoril, beijando as suas praias, permitia observar aquela baia azul povoada de iates e banhada de sol.

Em breve é Lisboa que se avizinha, o Tejo de águas sujas que não consigo deixar de amar.

Embalada pelo sincopado movimento daquele cavalo de ferro, fecho os olhos lentamente.

É então que o telemóvel toca. Estas maravilhas da tecnologia que nos fazem estar contactáveis nos lugares mais inóspitos e nos momentos mais inoportunos. Porque nenhum momento é oportuno para a morte. Muito menos para a tua, Avó.

Eu sei que ninguém é eterno. Sabia-te doente. Sabia que já aguentaras mais do que um dia supus que aguentasses... Mesmo assim não foi oportuno. Não foi justo. Não tinhas o direito de morrer. Nem de sofrer.

Sabes como sempre te amei. Como sempre te admirei. As recordações e os melhores momentos da minha infância estão recheados de ti.

Nenhuma das minhas primas tem a noção de tudo o que fizeste. Não. Não me esqueci. Nunca me esquecerei, aliás. E se quando um dia nos reencontrarmos vamos conversar sobre todas as coisas que não dissemos. E vamos rir e brincar como na minha infância.

Tenho pena por saber que vou deixar de ver-te – por uns tempos, pelo menos.
Tenho pena pelos bisnetos que não chegaste a conhecer.
Tenho pena por todas as coisas que não terás podido fazer.
Tenho pena que tenhas morrido.

Até um destes dias – tu sabes: eu nunca digo adeus!

(c) Dulce Dias – 28.08.1998

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